quarta-feira, 15 de julho de 2015

Saudade

Eu não gosto de escrever sobre coisas tristes. Não gosto de expor meus sentimentos. Mantenho a duras penas essa minha fachada de iceberg, e só a Deusa sabe o quanto engolir o choro pode ser difícil, às vezes. Eu procuro levar sempre minha vida com um sorriso no rosto e uma piada sarcástica na ponta da língua, porque é a melhor forma de deixar tudo mais leve e mais fácil de se lidar.
Mas a saudade sempre bate nas horas mais inesperadas. Não nas horas ruins, mas nas felizes. Porque eu queria poder dividir essa felicidade. Porque eu sei que aquela pessoa vibraria com minhas conquistas, que os olhos dela brilhariam de orgulho.

Tia, já fazem dois anos e nove meses que você se foi, e deixou esse puta vazio que ficou aqui. E, caramba, quanta coisa aconteceu de lá pra cá! Muita coisa boa. Muita coisa ruim. Muita coisa que eu nunca imaginei que aconteceria. Muita coisa que eu esperava, mas ainda assim foi um choque quando rolou. Nesses quase três anos, acho que envelheci uns cinco. E amadureci uns dez. Não foi fácil. Não tá fácil. Nunca será fácil. Nunca vai passar.

Eu estou bem, sabe, tia? Bem como há muito tempo eu não ficava. Tomei um rumo na minha vida, um rumo que ainda não é definitivo, mas é marcante, um momento chave. Eu tenho um trabalho que eu adoro, eu sou valorizada. Eu estou amando estudar. Eu tenho uma pessoa incrível do meu lado, que me faz feliz pacas. Acho que a criança que eu era finalmente está tendo orgulho da adulta que eu me tornei, depois de muito tempo torcendo o nariz. Há um ano atrás, nem em sonho eu imaginaria que hoje estaria como estou. Mas só tem uma coisa que não muda: essa dor insuportável. E o que torna essa dor insuportável, é saber que ela vai me acompanhar - ou melhor, nos acompanhar - pelo resto da vida.

Você era uma pessoa simples, humilde, mas com uma coragem imensa, uma garra invejável, uma sinceridade quase absurda. Você dava a cara a tapa para defender a família, para me defender, você não se escondia, não fazia média. Você teve uma vida difícil desde a infância, mas a enfrentou sem arrependimentos. E essa sua vida foi curta, mas quanta gente ela marcou! Quantas vidas foram mudadas, graças a você. Isso é algo que só a gente sabe.

Eu ainda ouço sua voz nitidamente na minha cabeça, como se você estivesse falando diretamente comigo. Eu ainda tenho a impressão de que, se for à sua casa, você estará lá. Eu ainda falo seu nome no tempo presente, ainda que isso soe preocupante para algumas pessoas. Eu não admito quando colocam um "falecida/finada" à frente do seu nome, sempre imploro que não falem assim. E sei que pensam que é porque não aceito sua partida, mas não é isso. Apenas não quero que reduzam você a isso, ao seu estado imaterial. Você é você, e ponto.

Eu sinto sua falta todos os dias. Mesmo que eu não diga isso em voz alta. Mesmo que eu só chore para dentro, porque desde que eu era pequena o carimbo de "forte" que colocaram na minha testa me impede de chorar em público. Eu comemoro toda vez que sonho com você, porque sempre é muito real. Eu daria tudo para ter um poder estilo "Efeito Borboleta", nem que o usasse apenas para poder abraçar você de novo, uma única vez. 

Eu queria você aqui do meu lado agora, tia. Eu queria poder dizer tudo isso pessoalmente.

Talvez um dia eu possa. 


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