terça-feira, 22 de julho de 2014

Amor demais ou falta de noção da realidade?


O que me motivou a escrever esse texto foi a leitura de um status no Facebook. Nele, uma conhecida comentou que, enquanto dava uma bisbilhotada no perfil do filho de 12 anos, ficou surpresa ao ver que as amigas dele da mesma idade estavam em relacionamento sério com alguém. Até aí nada demais, pois concordo que os pais devem prestar atenção à rede social dos filhos (questão de segurança), e também ainda me choco quando vejo pré adolescentes namorando. Mas o que me incomodou foi a maneira como as questões foram colocadas.



Ao contar que olhava o perfil do garoto, ela se justificou mil vezes. Disse que tem a senha sim, que é a mãe, que ele só tem 12 anos, não se manda e também não se importa que ela olhe. E pouco depois, em um comentário do mesmo post, disse que com ela é assim mesmo, que olha redes sociais, cadernos, diários, tudo dos filhos, que "não tem essa de privacidade", que eles só terão isso quando tiverem a casa deles. E outras pessoas comentavam que, se mais mães fizessem isso, haveria menos adolescentes grávidas no mundo (!), e uma outra ainda disse que o filho dela tem 22 anos, e se ele bobear ela olha ainda.

Acho essa questão muito difícil, e como não tenho filhos nem tenho propriedade pra falar. Mas eu tenho pais. E eu também usava bastante as redes sociais durante a adolescência. Diários, então, eu tenho desde criança. Celular, ganhei o primeiro aos 11 anos. E meus pais nunca bisbilhotaram absolutamente NADA. Me educaram à base de informação clara e confiança, desde cedo. Quando queriam saber algo de mim, me perguntavam. E pasmem (ironia mode on), eu já tenho 23 anos, nunca usei sequer maconha, nunca engravidei nem peguei qualquer DST, sempre bebi com responsabilidade e nem ao menos tomei suspensão no colégio. Nunca me envolvi em brigas de rua, nunca repeti de ano. Sabem por que? Por causa da orientação, da confiança, e do respeito que sempre tiveram por mim como indivíduo. Por ter sido orientada, eu aprendi a me cuidar. E a privacidade que eu tinha era valorizada por mim o suficiente, para que eu nunca quisesse perdê-la. Tenho certeza que os pais "stalkers" que lerem isso vão ficar chocados, mas pelo jeito a liberalidade dos meus velhos deu certo pra mim. Por outro lado, stalkear demais pode ser furada por dois motivos: 1) Quem quer aprontar sempre dá um jeito, e isso vale em qualquer relacionamento. Se seu filho deixar de postar determinadas coisas ou de ter determinadas conversas com os amigos porque você está espiando, ele vai fazer isso pessoalmente, ou por telefone, ou até por telepatia ou sinais de fumaça, se for necessário. Só conversando abertamente e sem chiliques você pode ensiná-lo a se preservar, evitar que o filho ~revoltado~ curta/compartilhe posts de ódio, ou que a filha poste fotos de calcinha e sutiã, ou que alguns deles marque encontro com um tarado sem saber. 2) Todo filho stalkeado demais uma hora se irrita com isso, e aí é capaz de fazer besteira só por birra, ou bloquear os pais (adolescente é impulsivo), ou até criar um perfil fake pra poder fazer o que bem entender. Aí sim que o caldo entornaria de vez, né? Então que tal tentar o diálogo com eles, antes de tanta imposição?

E agora, mudando um pouco o foco, o ponto que mais me incomodou na postagem e nos comentários: o machismo (sempre ele!) implícito e travestido pela preocupação daquelas pessoas zelosas por suas crias (e pelas dos outros). Para começar, a mulher que falou das amigas do filho só citou elas, e ainda disse que elas estavam "precisando de umas cintadas, para acalmar o fogo". Percebem? Ela só criticou as meninas. Se o problema é namorar muito jovem, por que a outra parte não é citada? Ora, se os garotos tem a mesma idade, eles também precisam "acalmar o fogo", não acham? E se são mais velhos (o que é bem comum), pior ainda, ao menos do meu ponto de vista. Mas claro, é aquela velha história de "mulher tem que se valorizar, porque homem é tudo igual". Ah, meus sais! E mais um "detalhe": os comentaristas citaram a palavra "mãe" trocentas vezes, dizendo que a mãe deve fazer isso e aquilo, colocando mais uma vez a responsabilidade pela educação toda nas mãos dela, e isentando o pai. Mentalidade mais velha que andar pra frente.

Gente, quando é que vocês vão expandir essas mentes pequenas? 

2 comentários:

  1. Eu concordo plenamente contigo. Quando os pais orientam o filho dentro do que é certo e mostram confiança à ele, a criança vai criar uma certa consciência. Se os pais não tem essa maturidade de confiança, como o filho terá um dia?
    http://zombieffect.blogspot.com.br/

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    1. Pois é, Van. E uma coisa que eu vejo muito acontecer é os pais/tios/familiares mais velhos e próximos irem lá e xingarem a criança/adolescente em um comentário público, pra todo mundo ver. Acho que eles vêem isso como equivalente ao que nossos pais faziam com a gente, de dar bronca na frente dos nossos amigos. Mas eu acho barraco online muuuuito feio, em qualquer situação. E acho que, na fase rebelde e afetada que é a adolescência, isso só mina a relação familiar. Piora as coisas. Sei lá, é fácil falar que "pega a cinta", se o filho engrossar. Mas acho que, se desde o começo houvesse mais maturidade e confiança, como você comentou, o uso da cinta nem seria necessário.

      Beijinho.

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