sexta-feira, 2 de maio de 2014

Filme: Begotten

Boa tarde, gente!
Como vocês sabem, estou viajando a trabalho e com o tempo bem corrido. <o> Como já tenho essa resenha pronta desde a semana passada, decidi compartilhá-la com vocês. :)

Lembram dessa postagem, em que listei filmes que eu nunca teria coragem de ver? Lembro que na época o que mais me chamou atenção e causou repulsa foi Begotten, e ele só ficou em segundo lugar porque Holocausto Canibal apresenta um motivo incontestável para que eu não o assista. Sempre tive certeza de que Begotten me deixaria com medo, e ao mesmo tempo a curiosidade em relação a ele era bem maior do que aos outros da lista. Afinal, não era apenas um filme controverso - era experimental mesmo, puramente artístico, escandaloso por trazer metáforas blasfêmicas. Qualquer coisa que tenha um alerta de "transgressor" sobre a cabeça me atrai feito uma droga, e então chegou o dia em que, sem pensar muito, deixei a frescura de lado e botei o filme pra rodar (você o encontra completo no Youtube).


Como não sou tão ~macho~ assim e tinha certeza absoluta de que o filme me perturbaria, tratei de assistir durante o dia, com janelas e portas abertas e agarrada no terço com uma xícara de café na mão. Talvez tenham sido justamente essas expectativas, o motivo de eu ter me frustrado com o filme. Esse longa não me fez nem cócegas, gente.

Tá, antes que me apedrejem, digam que eu não entendi a obra, que sou uma boba, chata e cara de mamão alienada que não aprecia arte e prefere Jogos Mortais, já aviso que entendi, sim, a Metáfora com Deus, a Mãe Natureza, e o "Carne sobre Ossos". Como esse filme é pouco conhecido pelo público e vocês provavelmente estão boiando, explico: Deus acabou de criar o mundo, e se suicidou em seguida. A Mãe Natureza se fecundou com o sêmen dele e gerou um filho, uma aberração chamada "Carne sobre Ossos", que passa o tempo todo aparentando estar sofrendo horrores. Pouco antes do meio do filme, um grupo de nômades encontra os dois, tortura e mata o "Carne sobre Ossos", e estupra a Mãe Natureza. Tudo isso é contado sem diálogos, com imagens em preto e branco e sem meios tons, que são um verdadeiro teste para os olhos em alguns momentos. A história - que na verdade é apenas uma sequência de acontecimentos sem muito nexo - dá margens a várias interpretações, e eu interpretei dessa forma: Deus criou o mundo, mas não quis continuar nele, e então se matou e disse "te vira" para a própria criação. A Mãe Natureza, sozinha, usou os elementos dados por Deus (aqui representados pelo sêmen) para criar o "Carne sobre Ossos", que nada mais é do que o mundo que temos: uma criação divina (ou satânica, dependendo do ponto de vista), porém terrivelmente "deformada", "estragada", "defeituosa". E os nômades... os nômades são a espécie humana, meus caros. Que arrasam com tudo que encontram, acabam com o mundo (matam o "Carne sobre Ossos") e destroem a natureza (não é muito difícil fazer uma analogia entre toda a esculhambação que fazemos com a natureza e o estupro coletivo que a mulher que a representa sofre, no filme).

Sim, gente, achei essa premissa genial. É pura blasfêmia, ousadia, cenas cruas e chocantes, que além de causarem caretas de espanto, o obrigam a ficar com os olhos grudados na tela, já que as imagens não são nítidas e exigem esforço, para que entendamos o que está acontecendo. Os efeitos sonoros dão nos nervos (no bom sentido) e a musiquinha que toca de surpresa às vezes constrói uma tensão e tanto. But... não dá medo. Nenhum. O filme é chocante, mas não é assustador. Talvez eu que tenha lido muito a respeito da obra e esperado demais, ou talvez eu seja fria para filmes de terror/horror, já que pouquíssima coisa me assusta de verdade. Pode ser também que a culpa seja de eu ter visto em plena luz do dia, mas esse é o ponto: quando um filme é assustador e pesadão mesmo, ele vai te deixar arrepiada até se você assisti-lo no meio de um desfile de carnaval, com seu pai ao fundo dançando Macarena. E de verdade, não me assustei aqui. Não foi nem de longe uma coisa bonitinha de se ver, mas não me causou pesadelos nem voltou à minha mente, como imaginei que aconteceria. E quando você não fica nem um pouco mexida ao ver um filme que você relutou durante mais de um ano para assistir, não tem como não se decepcionar.

Apesar disso, aprovo Begotten por um motivo simples: o Horror tem várias faces, e o fato de eu não ter me assustado não tira nem um pouco o mérito desse longa. Esse Horror aqui está na metáfora, na crueza, na perturbação ao reconhecer a realidade em que vivemos, escondida em cenas tão bizarras. Begotten, mesmo não te fazendo dar pulos no sofá, vai te fazer pensar e se sair muito melhor do que filmes comerciais recheados de sustinhos fáceis. Não é um filme imperdível, mas com certeza é uma experiência que vale a pena.


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